"A representação democrática exige que se fomente a autonomia
individual, isto é, que as pessoas sejam capazes de produzir os seus
próprios interesses a partir da reflexão crítica sobre o mundo e do
diálogo com os seus semelhantes. Formas de representação como advocacy,
embora possam trazer benefícios a curto prazo para integrantes de um ou
outro grupo social, não estimulam o exercício dessas autonomias" (Miguel, 2011).
"A ideia de advocacy tende a equivaler interesses e necessidades, ou
mesmo priorizar estas últimas. Trata-se de uma posição congruente com o
seu viés paternalista: a ênfase em encessidades, em vez de interesses,
acomoda-se mais facilmente com a decisão por experts" (Phillips, 1995).
"Autonomia significa que, embora sejamos seres sociais, somos capazes
de desenvolver competências que nos permitem avaliar criticamente as
tradições e valores que herdamos" (Barclay, 2000).
"Entendida como um bem social. necessário à Democracia, estabelece a
necessidade de universalização dos recursos materiais, informacionais e
cognitivos que permitem o seu desenvolvimento" (Miguel, 2011).
"Aqueles
que possuem menos recursos para a participação política encontram
porta-vozes que se dispõe a prover as suas necessidades e o seu
bem-estar. É uma falsa solução, que perpetua a exclusão política e não valoriza a conquista de autonomia" (Miguel, 2011).
A Democracia em Portugal é, clara e tristemente, um projecto deixado a
meio. E deixado a meio conscientemente por aqueles que mais beneficiam
do facto de ter sido deixando a meio.
Enquanto a diferença entre o político profissional e o cidadão comum se
mantiver, o primeiro pode eternizar-se no exercício do poder. Pode
defender essa eternização com o facto de ter uma expertise que o cidadão comum não tem. E pode continuar a contribuir a ausência dessa expertise com a legislação que aprova.
Enquanto o cidadão comum não se aperceber de como se deixa, desta forma,
enlear numa teia que reproduz e eterniza desigualdade, de como é
mantido num confortável alheamento para o qual é convidado a convocar
substitutos como as religiões, sejam elas de natureza eclesiástica,
desportiva, ou outra, dificilmente se dará conta de que é do seu mundo e
da sua vida que assim abdica. Ou do quão facilmente defenderá esse
alheamento e esses substitutos, ao deles depender toda a sua identidade e
auto-estima, garantindo dessa forma que qualquer aviso ou crítica será
automaticamente recusado.
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