20130612

Sr. Jorge!

SENTIDO DE DEVER 

O Sr. Jorge Ascensão, presidente da CONFAP, veio hoje a terreiro apelar ao «sentido de dever» dos professores. É, no meu entender, um apelo lamentável, apesar de parecer muito assertivo.
Em primeiro lugar, se há profissionais em Portugal com elevado «sentido de dever», os professores estarão, certamente, à cabeça desse honroso grupo.
Em segundo lugar, é precisamente por causa desse elevado «sentido de dever» que os professores estão, de novo, em luta frontal com o Ministério da Educação. Acima de tudo, é a qualidade do serviço prestado aos alunos (logo, aos encarregados de educação e à sociedade em geral) que está em causa. Se os docentes não pudessem usar esta “arma”, então a Escola Pública estaria, doravante, completamente à mercê daqueles que a querem esmifrar, a favor do ensino privado, criando, desse modo, dois Estados dentro do Estado: o dos que podem (com escolas de qualidade) e o dos que não podem (com escolas escanzeladas, inseguras e sem condições de promover a tão propalada igualdade de oportunidades dos cidadãos). Bastaria calendarizar para esta altura todos os saques à Escola Pública. Estaríamos todos de mãos atadas.
Em terceiro lugar, lamento profundamente que a CONFAP apele ao «sentido de dever» dos professores e ignore o sentido justiça e de dever do Governo, uma vez que é “dali” que, nos últimos cinco anos, têm vindo todas as pragas que têm depauperado a nossa Escola Pública.
A CONFAP só tem de estar do lado dos alunos e de mais nenhum. É esse o seu tesouro. Por isso mesmo é que estranho muito que não esteja agora — como não tem estado, por norma — ao lado daqueles que dão, diariamente, corpo, alma e até o tempo da família pela Escola que protege, acarinha, alimenta, conforta, ensina e educa as crianças deste país que não podem, ou não querem (porque têm direito a uma Escola Pública de qualidade) refugiar-se nas privadas. Lamento muito que todos corram a encostar-se ao poder, em vez de engrossarem as fileiras daqueles que têm hasteadas as bandeiras com o rosto dos seus educandos. 

Luís Costa

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