Leio isto. As palavras não deixam grande margem para dúvida: «É preciso "chumbar" menos alunos, mas também relativizar a "desmesurada atenção às notas"». Releio: é "preciso", e "desmesurada atenção às notas". A OCDE só pode estar a brincar.
Falemos de coisas sérias e de forma clara: não há em Portugal, e ha já muito tempo, qualquer Ministério de "Educação".
Primeiro,
porque o que ele faz não é tutelar escolas, mas sim - e cada vez mais -
tutelar as actividades económicas que predam o ensino (a construção
delas, os serviços delas, etc).
Depois, porque não
compete às escolas "educar": essa tarefe compete aos paizinhos, que se
esquecem com frequência de que as escolas não são espaços de dumping de miúdos, e de que os professores não são baby-sitters nem substitutos de pais.
Quando têm condições - e também só em pouquissimas escolas, e sobretudo privadas, isso acontece - os professores instruem, não educam.
Não é aos professores que compete formar o carácter dos meninos. Não é
aos professores que compete aturar os défices de atenção e de afecto de
crianças a quem os pais oferecem consolas mas não atenção. E não é
certamente a professores a quem se obriga a preencher quilos de papel
para "justificar" um chumbo mas nada é pedido para "justificar" o
aproveitamento que a sociedade tem qualquer moral para exigir o que quer
que seja.
O professor não passa conhecimento como se se tratasse do conteúdo de
uma seringa hipodérmica. Também não transmite conhecimento, uma vez que o conhecimento não é uma doença infecciosa. O que o professor faz, quando tem condições para isso, é explicar
a relevância de algo, o interesse que a posse de determinado
conhecimento tem para o indivíduo, em que medida o prepara mais para o
mundo, adequando a informação ao perfil de um aluno. Não pode é fazer
esse
trabalho com turmas de 40, em doses homeopáticas de 60 a 80 minutos,
como se de uma fábrica de enchidos se tratasse.
E
desafio qualquer pai/mãe a aceitar, no seu emprego, os dias de 16 horas
de trabalho (na escola e em casa, a preparar e a corrigir), a
desautorização constante de miudos sem maneiras mas com telemoveis, e as
pressões administrativas, ministeriais e agora da OCDE para criar a
ilusão de que miudos sem capacidade devem não apenas ter aproveitamento
mas ser levados ao colo até à universidade e, quem sabe, até à liderança
de um partido e de um governo.
Querem um país melhor?
Comecem em casa, a ensinar carácter e sentido crítico. Não esperem que
sejam os professores a limpar o que os pais estao demasiado ocupados
para fazer. Ou então ofereçam cereais com diplomas dentro: sempre era
mais honesto.
3 comentários:
Boa malha Moriae!
pedronpereira neto e não Moriae, não é assim?
Mas a malha é boa na mesma ;);)Que se vão catar!
De acordo, Bibónorte : ) E sim, mais um excelente texto do Pedro Pereira Neto : )
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