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Ontem ouvi um senhor de cabelos brancos dizer o seguinte: o único governo que não lixou o povo foi o de Vasco Gonçalves.
Fiquei a matutar naquelas palavras. Recordava-me que Vasco Gonçalves esteve nuns quantos governos provisórios e fui pesquisar para me instruir um pouco. Em resumo, Vasco Gonçalves foi Primeiro-ministro de 12 de Julho de 1974 a 19 de Setembro de 1975 (derrotado pelo PS em eleições), e mentor da reforma agrária, das nacionalizações, do salário mínimo, dos subsídios de férias e Natal. No entanto, foi afastado por todos os partidos.
Caricato como o senhor idoso não pronunciou uma palavra sobre Salazar (pelo que lhe conheço, imagino que se bateu contra a ditadura de então), mas o tom pesaroso com que emitiu a sua opinião revelou um pesar pelo presente, o luto pela luta.
Tendo em conta as palavras que ouvi e o que depreendo do que li - salvaguardando que não formei favoritismo pelo "gonçalvismo" no qual não sou especializada -, a minha crença que vivemos numa quimera democrática é reforçada, que o "ideal de Abril" é utopia. Não defendo de forma alguma a ditadura, mas não será isso o que temos, uma ditadura encapotada na inversão de valores? Que Estado é este que corroí o país?
Continuo curiosa com o paradeiro da gente idónea, que se passou para que fossem arredados, em última análise, ostracizados - por vezes surgem Contos, como os de Rui Mateus, que se esfumam (como por magia) das livrarias e alfarrabistas, escapam as Farpas do Eça e Ortigão, mas esses já se foram e tiveram mérito em idos oportunos. Sobretudo, continuo sem compreender qual é a substância que se respira em Portugal e deixa a população permissiva a este sistema político, repleto de vícios e ciclos encenados.
Parece que os mais novos ficaram comandados à nascença, com a devida autorização parental que sonha um futuro brilhante para o rebento - tenhamos o canudo e os males estão resolvidos. Parece que "isto" anda muito mal, a precariedade aumenta, técnicos superiores a 3€/hora. Mas dizem os analistas que os mais novos não votam. Porque será?
Andamos "nisto" há décadas, mas isso não importa nada.
Fonte da imagem: Biblioteca Nacional
Fonte da citação de Eça de Queiroz, em "As Farpas, Maio de 1871: Na Cabeceira
Caricato como o senhor idoso não pronunciou uma palavra sobre Salazar (pelo que lhe conheço, imagino que se bateu contra a ditadura de então), mas o tom pesaroso com que emitiu a sua opinião revelou um pesar pelo presente, o luto pela luta.
Tendo em conta as palavras que ouvi e o que depreendo do que li - salvaguardando que não formei favoritismo pelo "gonçalvismo" no qual não sou especializada -, a minha crença que vivemos numa quimera democrática é reforçada, que o "ideal de Abril" é utopia. Não defendo de forma alguma a ditadura, mas não será isso o que temos, uma ditadura encapotada na inversão de valores? Que Estado é este que corroí o país?
Continuo curiosa com o paradeiro da gente idónea, que se passou para que fossem arredados, em última análise, ostracizados - por vezes surgem Contos, como os de Rui Mateus, que se esfumam (como por magia) das livrarias e alfarrabistas, escapam as Farpas do Eça e Ortigão, mas esses já se foram e tiveram mérito em idos oportunos. Sobretudo, continuo sem compreender qual é a substância que se respira em Portugal e deixa a população permissiva a este sistema político, repleto de vícios e ciclos encenados.
Parece que os mais novos ficaram comandados à nascença, com a devida autorização parental que sonha um futuro brilhante para o rebento - tenhamos o canudo e os males estão resolvidos. Parece que "isto" anda muito mal, a precariedade aumenta, técnicos superiores a 3€/hora. Mas dizem os analistas que os mais novos não votam. Porque será?
Andamos "nisto" há décadas, mas isso não importa nada.
Fonte da imagem: Biblioteca Nacional
Fonte da citação de Eça de Queiroz, em "As Farpas, Maio de 1871: Na Cabeceira
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