"1. Tenho uma filha que será afectada, pois pelo menos um dos exames coincide com as datas conhecidas.
2. Apoio a greve.
3. Informei a minha filha que o(s) exame(s) que não puder fazer naquele dia(s) certamente que se fará(ão) noutro(s) dia(s).
4. Informei a minha filha que os professores não irão trabalhar naquele dia porque estão em luta pelos seus direitos e que por tal vão perder um dia de salário.
5. Informei a minha filha que não há greves sem prejuízo, nem prejudicados – aliás essa é a força da greve.
6. Informei a minha filha que numa sociedade solidária, mesmo quando não ganhamos nada directamente pode acontecer que sejamos chamados a lutar pelo que é certo, mesmo com prejuízo em causa própria.
7. Informei a minha filha que numa sociedade solidária, ninguém pode aceitar como bom, que as famílias partilhem menos uma hora por dia, que se despeçam pessoas aos milhares e se diga que tal é bom, que se trabalhe gratuitamente, que se reduzam remunerações, que se retirem direitos aos fracos quando se engordam os ricos, que se desprezem e menosprezem as pessoas e que se castiguem os que nada fizeram e se dê cobertura aos que a este ponto nos trouxeram.
8. Informei ainda que a possibilidade dela ter de fazer o(s) exame(s) noutro(s) dia(s) representa o(s) contributo(s) dela para uma sociedade justa.
9. Pedi desculpa à minha filha, por não ter sido capaz de evitar que ela, tão nova, tivesse que participar num processo de combate político, mesmo que passivamente. Pertenço a uma geração de inertes, que tudo delegam e depois ousa estranhar a acção dos que diferem e vão à luta.
O mais interessante nisto tudo, é que ao contrário dos doutos egoístas que em vários fóruns vi manifestarem-se, a minha filha, com 12 anos, depois de pensar um pouco disse-me convicta: Faz sentido! Não faz mal. Se não fizer exame naquele(s) dia(s), farei noutro e assim os professores terão lutado pelo que é justo.
Nestas alturas, fico aliviado, pois percebo que ainda temos salvação. Provavelmente, tal só acontecerá na geração que nos segue, mas sempre é melhor do que nada." ( Paulo Bernardo E Sousa @ A Professorinha )
@ Juventude às Ruas leva solidariedade a greve de professores! |
1 comentário:
Na altura publiquei este texto, porque além de reflectir uma conversa havida entre mim e a minha filha, considerei pertinente que nós adultos também fossemos capazes de simplificar e entender o real sentido das coisas, tal como as crianças. Tem-nos faltado genuinidade. Tem-nos faltado espírito de partilha, empatia amor próprio e amor pelos outros. Num país de matriz cristã, tal é no mínimo contraditório.
Sendo que muitas vozes egoístas se levantavam contra aquelas greves considerei que seria importante dar voz a outra maneira de estar e assim ajudar a despertar. Não sei se resultou.
Apercebi-me que outros textos por aqueles dias procuraram o mesmo. Todavia, como só sou responsável pelo meu metro quadrado de influência, não teria ficado bem comigo se até nesse espaço nada fizesse.
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