Como estou já reformado não me dirijo directamente, ao contrário do que era meu hábito, ao titular da pasta da educação, mas sim aos professores em exercício - e a quem mais queira ler esta carta - para manifestar expressa e publicamente a minha continuada indignação pela renovada desqualificação do ensino, dos estudantes, dos professores e da população portuguesa, subtraindo as armas do conhecimento numa altura em que é cada vez mais importante o estudo e a compreensão de fenómenos de crescente violência a entrar e a sair na porta do nosso quotidiano. Tudo feito numa grosseira argumentação dum pseudo rigor económico duma pseudo absoluta e definitiva “economia”.
Conheço de há uns anos os textos de Nuno Crato sobre o ensino e não só, onde o melhor de aspectos do discurso matemático se mistura com o pior do pensamento hitórico-filosófico, de que se destaca o total desprezo pela lógica dialéctica, a mais liminar rejeição da particularidade e da individualidade nos processos da aprendizagem e da socialização e o maior desdém pelos que vendem a sua força de trabalho. Estes, a seu ver, necessariamente objecto de exploração numa não menos necessariamente acefalizada e subalternizada condição trabalhadora e aquelas, lógica dialéctica e processos de aprendizagem, a serem soberana e irritadamente varridas da cena.
A excelência e o rigor do Professor Crato são estritamente de especificidade técnica e obstinada e despudoradamente mercenárias.
De tal maneira que não só em nada nisso se distingue das duas próximas suas predecessoras como tomam as funções que exerce cada vez mais as atribuições de paquete.
Combater o dogmatismo com outro dogmatismo é abraçar o que se combate. Resta meramente factual a lógica que informa tal (aparente) contra-senso: contém a contradição mas não contém a explicação.
O equívoco e o drama que vivemos reside aí: temos tido uma sucessão de dirigentes que são mais moços de recados dos “investidores” do que responsáveis dirigentes de um povo cada vez mais justamente indignado pela intimidação, pela delapidação, pela burla, pela sonegação, pela mentira e pela traição.
Se, nos idos oitenta do século passado, Cavaco mandou pôr a farinha na masseira, se foram pondo o que puseram ao futuro bolo por esse tempo adiante até ao chantilly e à cereja de Maria de Lurdes Rodrigues e ao dar corpo à festa de Isabel Alçada, cabe agora ao Dr. Nuno Crato fatiar e distribuir o bolo aos escolhidos entre quantos foram convidados, deixando cada vez mais portugueses à fome em frente à cada vez mais provocatória fartura para cada vez mais poucos.
Como reformado deixei de pertencer a qualquer que seja a escola nesta região e neste país. Por isso não mais posso internamente argumentar contra a mistificação e a desenhada violência da administração pública empossada após a última nova fraude eleitoral. Não mais posso, internamente, expressar e participar na luta, agravada pelo continuado trabalho de sapa dos sindicatos vendidos e de quem nas escolas inconsequente, manhosa e ou cobardemente se cala e ou consente.
Mas posso, se não me for tirada forçadamente a palavra ou a vida, observar e pronunciar-me sobre o que considerar ser meu dever fazê-lo.
Há professores jovens e outros menos jovens que nos Açores lutam na rua e nas instâncias da administração pública e privada contra o ataque brutal de mais um governo de traição ao povo português. Estiveram nas Portas da Cidade de Ponta Delgada, na Escola dos Arrifes, onde foram pidescamente identificados por polícias à paisana, na Escola Canto da Maia, nas instâncias governamentais.
Junto-me a eles na luta!
Luta contra a burla económica, escalpelizando-a, explicando como ela se tem imposto e fazendo-lhe justificado combate! Luta pela recusa duma dívida de saque a quem não a fez em simultâneo com a denúncia do astuto golpe de branqueamento de quem a fez!
Subvertamos a afronta e ponhamos o saber ao serviço do povo português! Organizemo-nos no discurso e na acção! A um governo de lacaios adoradores da venalidade oponhamos um Governo Democrático Patriótico!
Obrigado,
São Miguel - Açores, 21 de Setembro de 2011,
Pedro Albergaria Leite Pacheco